sábado, 26 de maio de 2007

tarlei melo - hoje quero fugir da poesia


Hoje quero fugir da poesia




Hoje, está muito frio, então quero fugir da poesia. Vi muito lixo sobre o asfalto quando voltava para casa! Na noite mais fria do ano, meninas de quinze anos mostram suas pernas dentro de mini-saias de pano fino e solto, prontas para o sexo, disfarçando o frio. Algumas sorriam ao esbarrar (de propósito?). Então eu pensei que no mundo não há poesia. Para que poesias em noites frias assim, quando é tão ruim dormir no chão?


Enquanto o ônibus não vinha, vi uma menina desfilando ao lado de seu namorado dentro de uma calça branca, muito fina, muito justa. Imaginava vê-la nua. Passou por mim, indiferente, mas deve ter calculado tudo, antes de sair, na frente do espelho. Seu plano funcionava perfeitamente. Enquanto isso, uma lata de cerveja quase vazia rolava para dentro de um bueiro. Nalgum outro lugar do mundo, certamente uma outra lata rolava para dentro de outro bueiro. Há muito lixo nas ruas.


Em noites frias assim, as pessoas parecem puxar a fumaça do cigarro com mais força. Exibem o brilho de vaga-lumes de suas chamas, ostentam seus cigarros como se quisessem mostrar que em noites frias assim eles têm mais razão que os não fumantes. Hoje, alimentei uma inveja invisível dos fumantes. Se ao menos alguém me oferecesse um gole de gim. Na noite mais fria do ano, não há poesia da qual fugir.

Um comentário:

Lelé disse...

Meu, muito boa sua cronica. Bem visceral, traduz para dentro da gente direitinho o que vc sentia.